domingo, 15 de abril de 2012

A evolução política e económica da Europa de Leste

A crise do modelo soviético
O final da década de 80 do século XX constituiu uma viragem total para a paz mundial pelo que o clima de Guerra Fria entre as duas super-potências, os EUA (Estados Unidos da América) e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) termina.
No início dos anos 80, o sistema comunista da URSS encontrava-se obsoleto o que contribuiu para a sua deterioração. A URSS evidenciava os sinais na crise do modelo comunista: a estagnação económica provocada quer pela canalização dos investimentos públicos para a escala armamentista, quer pelo controlo estatal fez cair o sector produtivo concretamente nas indústrias. Por outro lado o Ocidente vivia anos de grande prosperidade após a crise económica dos anos 70. A administração do território sufocava sob o peso da burocracia, a política estava concentrada nas mãos de funcionários, na sua maior parte idosos, do Partido Comunista. O apoio financeiro aos países que se situavam na órbita do bloco soviético representava um pesado encargo. As liberdades individuais permaneciam restritas; ao nível económico, a população continuava com um nível de vida carenciado o que motivou a fuga de muitas das populações de leste para o mundo capitalista. Assim o fosso que afastava a URSS dos EUA em termos económicos e tecnológicos era cada vez maior. A URSS continuava a ter custos dispendiosos com a invasão do Afeganistão em 1979 voltando a pôr em risco a paz mundial. Também nas democracias populares se vivia uma situação complicada, dado que a economia estava em crise e as populações debatiam-se igualmente com a escassez de bens essenciais, mantendo um nível de vida bastante inferior comparativamente com os países capitalistas. Em 1982 a era de Brejnev marcada pela política marxista-leninista interpretada por Estaline até 1953 acaba.
Leonidas Brejnev

Seguem-se outros dois líderes que pouco mudam na estrutura política. Andropov sucede a Brejnev e fica até meados de 1984, Tchernenko é quem o substitui e fica até Março de 1985.

A era de Gorbatchev

É nesta conjuntura que os destinos da URSS ficaram entregues a Mikhail Gorbatchev, que detinha o cargo de secretário-geral do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Gorbatchev ao contrário dos antigos líderes tinha consciência das dificuldades da economia soviética e sentiu que o sistema socialista precisava de uma reforma e do mesmo modo entendeu os anseios de liberdade manifestados pela população. Neste contexto Gorbatchev inicia uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente propondo aos EUA o início das conversações sobre o desarmamento. O desarmamento dos dois países que iria ser celebrado no acordo de SALT II em 1979 não foi ratificado pelo Congresso Americano em sinal de protesto contra a invasão soviética do Afeganistão.
O líder soviético apercebendo-se que era impossível acompanhar os EUA e de igualar o programa de defesa nuclear criado pelo presidente americano Ronald Reagan em 1983 conhecido como “guerra das estrelas” vai procurar criar um clima internacional estável, iniciando as conversações em Novembro de 1985. Só assim o líder soviético poderia empenhar-se no progresso de reconstruir país sem ter que despender grandes verbas em arsenal bélico. Gorbatchev tinha como objetivo ultrapassar o processo de estagnação e acelerar o progresso social e económico, assim procedeu a uma reestruturação económica, a perestroika e em simultâneo implementou uma política de transparência, a glasnost. A perestroika constituiu num projecto de adaptação da economia planificada aos mecanismos da economia planificada. Os grandes monopólios estatais seriam eliminados e seria reconhecida a livre iniciativa e a livre concorrência entre empresas, abertas a capitais privados nacionais e estrangeiros.

Perestroika significa o desenvolvimento prioritário do domínio social, tendo por objectivo satisfazer as aspirações do povo soviético a melhores condições de vida e de trabalho, a melhores lazeres, a uma melhor educação e melhores cuidados médicos. (…)
MiKhail Gorbatchev, Perestroika, Um novo olhar sobre o nosso país e o mundo, Flammarion, 1987

A glasnost visava a participação mais activa dos cidadãos na vida política. Traduziu-se no fim da perseguição dos dissidentes políticos, no lançamento de campanhas contra a corrupção e na abolição da censura. Esta política de transparência propunha-se ainda ao reconhecimento da liberdade de expressão o que resultou na publicação de obras proibidas. A partir de 1985 a URSS começou a ter uma maior abertura democrática o que permitiu que se realizassem as primeiras eleições livres em 1989 para eleger o Congresso dos Deputados do Povo.



Mikhail Gorbatchev

 Contudo, a 26 de Abril de 1986 aconteceu um grave acidente nuclear em Chernobil (na actual Ucrânia). Explodiu um dos reatores da central de Chernobil, o que originou a libertação de uma enorme nuvem radioctiva, provocando a contaminação de pessoas, animais e o meio ambiente. Esta nuvem radioactiva chegou a atingir alguns países do centro europeu, dos países nórdicos e da própria URSS. Este desastre ambiental veio provar que o desanuviamento político imposto por Gorbatchev através da glasnost ainda não estava consolidado. A notícia deste terrível acontecimento só viria a ser transmitida ao território soviético e ao exterior dias depois. Os protestos não tardaram a chegar, acusando o Estado soviético de não dar importância ao assunto, situação que colocava em causa a transparência da glasnost. Com isto o chefe soviético demonstrou a sua determinação em prosseguir com a política da glasnost no sentido de ampliar a liberdade de expressão.


Reator do acidente nuclear em Chernobil
É nesta política de diálogo com o Ocidente que a URSS e os EUA entram conversações sobre a destruição das armas atómicas e em 1987 é assinado o Tratado de Washington. É assim estipulada a eliminação dos mísseis de médio alcance na Europa.
A URSS acaba por retirar-se do território afegão dois anos depois.


Gorbatchev e Reagan, Tratado de Washington entre os EUA e a URSS em 1987

O colapso do bloco soviético

Com a chegada de Gorbatchev ao poder, as reformas que impôs demarcaram-se dos outros líderes que a URSS tivera. A sua opinião acerca das democracias populares também era diferente à que era defendida pelos antigos líderes. Os países-satélites do bloco comunista que eram encarados como um trunfo nas mãos dos soviéticos, sendo impensável a URSS vir a abdicar deles, agora com Gorbatchev a situação ficaria invertida. Estes países do lado comunista eram sinónimo de despesa militar sendo que era um pesado fardo económico para a URSS manter estes países na esfera soviética. Seria assim benéfico se a URSS se liberta-se desses países. Como tal, Gorbatchev deixa de enviar tropas para reprimir qualquer manifestação que houvesse. Em consequência disto a população do leste percebe que estavam reunidas as condições para derrubar os regimes comunistas. A doutrina da “soberania limitada” foi assim posta de lado e os países-satélites da URSS puderam finalmente escolher o seu regime político. Neste sentido também Gorbatchev defendeu que o leste europeu pudesse escolher o rumo político que achasse melhor. É a esta política de que cada país deveria seguir o seu próprio caminho que o líder soviético dá o nome de Doutrina Sinatra do famoso cantor americano com a canção “My way”.
No ano de 1989 após quatro anos de liderança do chefe soviético, uma vaga democratizadora varre com os regimes comunistas dos países de leste e realizam-se as primeiras eleições livres nos países da “cortina de ferro”, Polónia, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, Hungria, RDA (República Democrática Alemã) e Jugoslávia. Nestes países formam-se novos partidos políticos, e antigos líderes da oposição que estavam presos assumem a liderança política. Em Maio de 1989, este processo culmina com a abertura da “cortina de ferro”, expressão que o líder inglês Winston Churchill tinha popularizado em 1946. A “cortina de ferro” que se estendia de Stettin, no Báltico, a Trieste no Adriático, começava a cair. As primeiras massas populacionais começam a poder circular livremente para o Ocidente. Neste processo a 9 de Novembro o símbolo mais marcante da Guerra Fria, o Muro de Berlim que havia sido construído em 1961 é derrubado.


Queda do muro de Berlim (1989)

Face à queda do Muro e ao colapso do bloco soviético a divisão alemã deixaria de fazer sentido. Depois de uma ronda de negociações, em Setembro de 1990 é assinado o Tratado 2+4, entre as duas Alemanhas no qual a França, a Inglaterra, os EUA e a URSS abdicavam do direito de ocupação da Alemanha na sequência da derrota nazi na 2º Guerra Mundial. A RFA (República Federal Alemã) e a RDA (República Democrática Alemã) puderam finalmente juntar-se tornando a Alemanha novamente num só país arrecadando assim a soberania total do território. Em Outubro do mesmo ano, a Alemanha encontrava-se unida politicamente por uma nova Constituição.

A reunificação alemã (1990)
Desenho do jornal The Spectator.A fisionomia representada pelo chanceler alemão ocidental Helmut Kohl

Nesta conjuntura revolucionária todos os países da “cortina de ferro” quiseram a sua independência.
Na Polónia as manifestações contra o regime comunista já se faziam sentir nos inícios da década de 80 quando foi criado o primeiro sindicato independente- o Solidariedade por Lech Walesa. Em 1989 o regime de partido único seria abandonado para dar lugar ao pluripartidarismo. A República Popular Polaca tinha desaparecido, renascendo a República da Polónia. Um ano depois, Lech Walesa torna-se Presidente da República da Polónia.


Lech Walesa
Na Hungria o regime comunista chegou ao fim pela mão dos próprios comunistas que acabaram com a República Popular da Hungria. Em Outubro de 1989, assistiu-se à dissolução do Partido Comunista húngaro, tendo sido acordado com os partidos da oposição o processo de transição para a democracia, que foi feito de forma pacífica.
Na Bulgária o ditador comunista Todor Jivkov deixou de estar à frente do país após a queda do muro de Berlim, dando lugar à realização de eleições livres em regime de pluripartidarismo no ano seguinte.


Todor Jivkov

Na Checoslováquia, em 1989 o movimento democrático que se opunha ao regime comunista, o Fórum Cívico, liderou as manifestações populares fazendo com que os comunistas que estavam no poder o abandonassem. Todo este processo de transição foi pacífico e foi caracterizado como a “Revolução de Veludo”. O líder do Fórum Cívico Vaclav Havel é assim escolhido para Presidente da República. Apesar desta revolução ter sido pacífica o país acabou por se dividir por causa das tensões étnicas que opunham Checos e Eslovacos. Em 1993 a Checoslováquia deixou de existir dando lugar à República Checa e à Eslováquia.


Vaclav Havel
Os dois países onde se registaram mais confrontações foram a Roménia e a Jugoslávia.
Na Roménia o ditador Nicolau Ceausescu não procedeu à democratização do país sendo a violência a arma utilizada para calar os manifestantes contra o regime. A intransigência do líder comunista acabou por resultar num golpe que retirou o ditador do poder. Ceausescu acabou por ser fuzilado em Dezembro de 1989; no ano seguinte foram realizadas eleições livres.

Nicolau Ceausescu

Remoção de uma estátua de Lenine, no centro de Bucareste, (Roménia), 1990
Na Jugoslávia as alterações políticas tiveram repercussões mais graves. Tratando-se de uma federação, as nacionalidades que integravam, movidas por fortes rivalidades étnicas, aproveitaram o ambiente de liberalização política para reivindicarem a independência plena. A oposição da Sérvia ao desmembramento do país originou uma violenta guerra civil, a Guerra dos Balcãs em 1992. Esta guerra envolveu a Bósnia e a Croácia mas acabou por se estender aos outros territórios dos Estados balcânicos. No final do conflito a Jugoslávia ficou reduzida a dois estados, à Servia e ao Montenegro, ficando independentes a Eslovénia, a Croácia, a Macedónia, e a Bósnia-Herzegovina. Em 2002 o nome “Jugoslávia” acabou por ser substituído pelo nome das duas repúblicas formando um só país. Entretanto estes dois estados acabaram por se separar em 2006 dando origem a dois novos países a Sérvia e o Montenegro. Para uma melhor pacificação entre os povos da ex-Jugoslávia as organizações internacionais como a NATO e a ONU intervieram na independência de alguns estados e ainda hoje estão presentes na região do Kosovo pois esta foi a ultima comunidade a desintegrar-se da Sérvia em 2008.
A URSS assistiu pacificamente a todos estes processos independentistas que levaram à deposição dos regimes comunistas. As forças do Pacto de Varsóvia já não chegaram a intervir nos territórios do leste onde os regimes comunistas iam caindo um após outro. É nesta conjuntura de pacificação que deixa de ter sentido o Pacto de Varsóvia e o COMECON, os grandes instrumentos de intervenção soviética nos países-satélites.
No plano internacional, o fim do Pacto de Varsóvia, fez com que a NATO assumisse uma importância ainda maior na intervenção em regiões conflituosas do globo sob o controlo dos EUA.
A URSS reconhece assim a independência a todos os países da “cortina de ferro” do leste europeu.

Alteração do mapa político da Europa Central e de Leste

O fim da URSS

As medidas liberalizantes tomadas por Gorbatchev não foram suficientes para sair do fosso em que a URSS estava nos tempos de Brejnev. A URSS começa a desintegrar-se nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a 2ªGuerra Mundial, a Estónia, Letónia e a Lituânia. A credibilidade política de Gorbatchev ficou ainda mais afectada com a intervenção militar nos Estados Bálticos no início de 1991, pois este não pretendia a destruição da URSS nem do socialismo. Da confrontação militar saíram vencedoras as forças reformistas lideradas por Boris Ieltsin antigo colaborador de Gorbatchev que entretanto é eleito para presidente da Federação Russa. Em Agosto do mesmo ano é tentado um golpe de estado contra Gorbatchev mas é fracassado. Nesta altura Ieltsin começa a ter mais apoio e na sequência deste golpe, o Presidente da República da Rússia, acaba por suspender a actividade do Partido Comunista e decreta o fim da URSS. Depois disto, seguiram-se as declarações de independência de algumas das repúblicas que constituíam a URSS.

Boris Ieltsin
A 21 de Dezembro de 1991 nasce oficialmente a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) que excluía qualquer manifestação de autoridade central. A esta comunidade aderiram 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética. Ficam assim de fora desta comunidade as três Repúblicas Bálticas, a Estónia, Letónia e a Lituânia. A CEI ficara assim constituída pela Federação Russa, a Bielorrússia, a Ucrânia, a Moldávia, a Geórgia, a Arménia, o Azerbaijão, o Turquemenistão, o Uzbequistão, o Cazaquistão, o Quirguistão (ou Quirguízia) e o Tajiquistão.

Desmembramento da URSS e nova configuração política: a CEI (Comunidade dos Estados Independentes)
Alguns dias depois da criação da CEI Gorbatchev abandona a presidência sem conseguir ter unida a URSS. A URSS que havia sido criada em 1922 desaparece ao fim de 70 anos.
Capa da Revista National Geographic, Março de 1993, representando o fim do Império Soviético.

Capa da National Geographic, Março de 1993, representando o fim do Império Soviético

Os problemas da transição para a economia de mercado

Após a queda da URSS foi muito complicado o processo de transição da economia socialista para a economia de mercado. Neste processo houve vários factores que dificultaram esta transição. A inércia instalada na população contribuiu para que a população ainda não estivesse preparada para entrar numa nova economia. Muitas das infraestruturas, vias de comunicação e indústrias estavam degradadas. A produção de armamento e a presença militar nos países satélites teve enormes consequências nos valores orçamentais. O plano de reconversão para a economia de mercado, a perestroika não teve uma estratégia sólida pois era pouco clara. A instabilidade política provocada pela resistência comunista fez com que os investidores estrangeiros não investissem na Europa de Leste. Todas estas contrariedades tiveram um enorme reflexo na vida das populações dos novos estados independentes. O desemprego aumentou com o fim da economia planificada, o que fez com que muitas empresas fechassem, extinguindo numerosos postos de trabalho. A inflação era galopante, a vida na ex-União Soviética tornou-se ainda mais difícil com a liberalização dos preços, acompanhada pela escassez dos produtos. A sucessiva desvalorização do rublo provocou um aumento brutal do custo de vida. A sociedade era caracterizada por uma enorme clivagem social. De um lado encontrava-se a grande maioria da população sem emprego ou com um emprego remunerado mas insuficiente para garantir a subsistência. A maior parte da população emigrava assim para o Ocidente onde os salários eram muito superiores. Do outro lado havia uma minoria de oportunistas, antigos gestores de quadros do partido que compunham assim fortunas valiosas. Tal como os países independentes da URSS os antigos satélites de leste sofreram com os mesmos problemas. Agora sem o apoio económico da URSS com o COMECON dissolvido veem-se sem meios para suportar as necessidades da população.
Os ex-países-satélites da URSS conseguiram reerguer-se mais rapidamente que os estados independentes da URSS. Integrada na Alemanha, a RDA viu este problema atenuado pela integração feita pela RFA. Outros países do leste europeu como a Hungria, a Polónia e a República Checa conseguiram, através de reformas liberalizantes, contribuir para o sucesso económico. Muitos destes países apostaram em grandes investimentos e graças a isso foram alvo de uma enorme procura turística. Outro factor que contribuiu para o crescimento económico destes países foi a sucessiva entrada na UE (União Europeia). A maior parte destes países ficaram beneficiados como é o caso da entrada na UE da Letónia, da Estónia, Lituânia, da República Checa, da Eslováquia, da Polónia, da Eslovénia e da Hungria em 2004. A Bulgária e a Roménia  entraram em 2007.
O desmembramento do bloco soviético veio contribuir para a hegemonia dos Estados Unidos nos aspectos económico-financeiro, tecnológico e também político-militar. No culminar do milénio surgiram outras regiões capazes de se revelarem ao nível económico. Foi o caso da União Europeia e os países da Ásia-Pacífico.


Trabalho realizado por: Guilherme Silva, nº17, 12 I

Fontes:
Apontamentos do caderno diário de história

Couto, C. Pinto; Rosas, M. A. Monterroso, O Tempo da História A, 1ª e 3ª parte, História A - 12º ano, Porto Editora, 2011.

Antão, A; Preparação para o Exame Nacional 2011 - História A 12. Porto Editora.

Boas, C. Vilas; Cravo, L. Miguel; preparar o Exame Nacional – História A 12, Areal Editores, 2010

Lopes, António, Carvalho Marco, Global.com, Geografia C, 12º ano Porto Editora, 2009

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