domingo, 15 de abril de 2012

Os três grandes centros de desenvolvimento económico: os Estados Unidos da América, a União Europeia e a zona da Ásia-Pacífico

Após o fim da Guerra Fria, perto do fim do século XX, o mundo deixou de estar divido em dois pólos e passou a ser multipolar, concentrando a sua riqueza e capacidade tecnológica maioritariamente em 3 grandes pólos de desenvolvimento económico: os Estados Unidos da América, a Europa ocidental e os países da Ásia-Pacífico. Os Estados Unidos da América, desde o desmembramento da União Soviética, emergiram como hiper-potência, detendo um grande poder económico, social, e político-militar, que os levou a imporem-se como ”agentes do bem” no mundo.

O seguinte mapa ilustra os grandes organizações de comércio livre em 2001 

A Hegemonia dos Estados Unidos

Ainda que tenham estado envolvidos em duas guerras mundiais que existiram, quer a de 1914-1918 quer a de 1939-1945, é devido ao facto de o seu território ser banhado por dois grandes oceanos, Pacífico e Atlântico, de ser formado por 9,4 milhões de km2 e povoado por 300 milhões de pessoas, e à consequente implosão da URSS, seguida do desarmamento das democracias populares do Leste da Europa, que os E.U.A dispuseram de todas as condições para ascender como única super-potência.


Mapa dos Estados Unidos da América

Nos anos 80, os Estados Unidos da América detinham uma elevada superioridade militar, befenificiavam duma próspera situação económica e dum avançado desenvolvimento tecnológico e científico.

Soberania militar americana

Mesmo depois da Guerra Fria ter terminado, de o Japão não considerar prioritária a indústria militar, e de a União Europeia não se decidir sobre que política externa comum devia adoptar, os americanos continuaram a investir grandes quantias de dinheiro na indústria aeroespacial, bélica e electrónica, de modo a assegurar a sua supremacia no sector industrial e estratégico-militar e conseguir o controlo exclusivo do espaço, durante muitos anos.

Ronald Reagan, sucessor de
Jimmy Carter na presidência
dos EUA.
Capa da revista Time,
onde aparece a cara
de Ronald com o título
"Defender a Defesa",
fazendo alusão à
iniciativa "Guerra das
Estrelas" 
Estes revelaram-se persistentes em não assinar vários tratados que tinham por objectivo limitar a proliferação de armamento não convencional; a fim de evitarem que a Rússia e a China se tornassem potências militares de segunda classe e de protegerem o seu território de ataques nucleares, os E.U.A continuaram a desenvolver a Iniciativa de Defesa Estratégica (“Guerra das Estrelas”), criada por Ronald Reagan. 

Recusaram-se a assinar o Protocolo de Quioto dado que, sendo sobre os problemas ambientais, limitava o desenvolvimento da indústria militar; nunca deixaram os seus militares serem julgados no Tribunal Penal Internacional, que haviam sido acusados das mais graves violações de direito internacional humanitário, sendo também designadas de crimes de guerra, de crimes contra a Humanidade ou mesmo genocídio.


                                     Discurso de Ronald Reagan sobre a "Guerra das Estrelas"

Uma vez que se afirmavam como os “polícias do Mundo”, intervieram militarmente em várias regiões do Globo, quer sem o suporte diplomático da ONU, quer com a ajuda das forças militares da NATO; foi levado a cabo um intenso programa de inovação tecnológica com o propósito não só de levar a guerra para fora do território, mas também de reduzir os riscos de vida dos soldados e civis americanos e os danos colaterais nos alvos visados.

Multiplicaram a imposição de sanções económicas a fim de punir os “infractores”, tais como a proibição temporária de produtos tecnológicos, alimentares, entre outros. Dado que o comunismo na Rússia se extinguiu, bem como o Pacto de Varsóvia, o papel da NATO saiu fortalecido, em função de os Estados Unidos garantirem a segurança da Europa, sendo como tal, sempre que necessária, autorizada a sua intervenção militar armada. Os americanos assumiram ainda um papel militar activo, tendo levado a cabo imensas intervenções armadas por motivos variados, desde causas humanitárias até ao combate ao terrorismo organizado ou mesmo na destituição de regimes repressivos que tinham por base violar os direitos humanos.

Imagem dum satélite GPS da NASA
Surgia assim a guerra cirúrgica ou guerra electrónica suportada por uma força aérea e por um conjunto da mais avançada tecnologia que inclui as armas mais poderosas da Terra. É nesta conjuntura que foram utilizados a orientação e espionagem por via satélite; os sistemas de orientação de mísseis balísticos por laser e potentes computadores; os sistemas de visão por infravermelhos que permitiam a guerra nocturna; os modernos radares que permitiam distinguir forças inimigas e persegui-las, de modo a serem atingidas com precisão exacta; era feito ainda o recurso à orientação por GPS (sistema de posicionamento global), aliado a poderosas máquinas de guerra aérea, terrestre e marítima. 

Estados Unidos da América - “Os polícias do Mundo”

Soldado militar americano
Após a Guerra Fria, os americanos visaram impedir que outras ameaças viessem pôr em perigo a paz desejada pela ONU, sendo que estas poderiam pôr em causa os interesses geoestratégicos do Ocidente, em particular, se neles estivessem englobados os seus próprios interesses.

Deste modo, os americanos preocuparam-se, entre outros assuntos, em acabar também com o avanço do comunismo na América Central, na Ásia e na África.

Bill Clinton, sucessor de
George H. W. Bush na presidência
dos Estados Unidos da América 
“[...] Os Estados Unidos da América devem ter um papel activo no rumo mundial, de forma a contribuírem para a manutenção da paz e da estabilidade e para promoverem a democracia. Sabemos que os outros países têm o olhar posto em nós, não apenas pela dimensão e força do nosso país, mas pelo que representamos e por aquilo que estamos dispostos a opor-nos. [...] ... onde os nossos interesses e os nossos ideais o exigem, e sempre que tivermos a possibilidade de deixar a nossa marca, agiremos, e, se necessário, assumiremos o papel de líder.” (Bill Clinton, entrevista concedida à revista Limes, 1997)

Surge assim o ataque contra alvos na Líbia por aviões da Força Aérea e da Marinha dos EUA, em 1986, denunciando o apoio do ditador Kadafi ao terrorismo internacional. Em 1991, o exército militar americano intervém na Guerra do Golfo, contra o Iraque, dado este ter violado o direito internacional ao ocupar o país do Kuwait. Esta libertação do Kuwait foi acompanhada “em directo” pela televisão, na qual era exibida a supremacia militar dos americanos em todo o mundo. Na Somália, entre 1992 e 1994, os americanos empreenderam uma operação denominada “Devolver a Esperança”, na qual distribuíram comida e tentaram manter a ordem social a partir da região do Corno de África; no entanto, esta tentativa acabara fracassada, visto que os rebeldes somalis impediram a acção dos americanos. Em 1999, o exército americano, constituído por um conjunto de forças multinacionais fornecidas pela NATO, interveio ainda na Sérvia, ex-Jugoslávia, uma vez que fez uso da repressão sobre a população albanesa da província do Kosovo, tendo violado assim os direitos do Homem.


                                                      Vídeo da Guerra do Golfo

“Em 1992-1993, o exército americano tinha-se empenhado no apoio a uma operação da ONU na Somália, na tentativa de impor a ordem e possibilitar uma eficaz distribuição de alimentos nesse país mártir... [...]. Contudo... (após os soldados americanos terem sido) mortos (e depois de o público americano assistir, chocado, pela televisão, à forma como foram maltratados os corpos da tripulação de um helicópetero americano), o presidente dos Estados Unidos anunciou para breve a retirada da maior parte das suas tropas.” (J. M. Roberts, História do Século XX, Volume II)

George H. W. Bush, sucessor de
Ronald Reaganna presidência dos
Estados Unidos da América
“A agressão no Golfo Pérsico constitui uma ameaça não só para a segurança de toda uma região, mas também para as perspectivas do futuro mundial. Ela ameaça transformar o sonho de uma nova ordem mundial num pesadelo onde reina a amargura e onde a lei da selva substitui o direito internacional. [... ]... é também por isso que não podemos permitir-nos ignorar este desafio. [...] A vitória terá consequências duráveis: o reforço das regras de conduta civilizadas nas relações internacionais, a criação de um precedente em matéria de cooperação internacional.” (George H. W. Bush (pai), Discurso na Assembleia-Geral da ONU, 1 de Outubro de 1990)

Hiperterrorismo

Foi devido à intervenção na Guerra do Golfo e ao apoio prestado ao Governo de Israel, de modo a reprimir a população palestiniana que pretendia ocupar o território israelita, que o mundo árabe empreendeu ataques terroristas organizados contra os E.U.A.

É a 11 de Setembro de 2001 que ocorre um dos acontecimentos mais marcantes da reacção islâmica aquando do desvio de quatro aviões em que três deles embateram nas torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e no Pentágono, em Washington. Iniciou-se, portanto, a imposição pelos próprios americanos da designada pax americana.

“O atentado antiamericano do 11 de Setembro de 2001 é uma coisa absolutamente diferente. Este foi um atentado bem concreto, aindaque um livro ridículo pretenda o contrário. Comparou-se a Pearl Harbor. [...] É certo que há semelhanças: o número de mortes, a surpresa, o choque. [...] Que Estado queria fazer explodir as torres gémeas de Manhattan e o Pentágono? Nenhum! A Al-Qaida nem sequer é uma organização centralizada. É uma nebulosa de grupos animados pelo fanatismo... A Al-Qaida nem sequer já mantém uma guerra verdadeira. A guerra visa obter resultados políticos. Quais são os objectivos da Al-Qaida? Que exige a Al-Qaida aos Estados Unidos? Nada! O modo de operar paralisou de estupor: a destruição das torres do World Trade Center lembra os filmes catástrofe de Hollywood...” (Barreau; J, C; Bigot; G; Tout l’histoire du monde, Editorial Teorema)

Imagem do trágico acontecimento do "11 de Setembro"

Empreendimento da “Pax Americana”

George W. Bush, sucessor de
Bill Clinton na presidência dos
Estados Unidos da América
No seguimento do trágico acontecimento do 11 de Setembro de 2001, o antiterrorismo passou a constar como o novo paradigma da política internacional dos americanos, que ficou desta maneira definido por George W. Bush na Nova Estratégia de Segurança Nacional (NSS).

A fim de terminar com o “Eixo do Mal”, eixo dividido entre os países que apoiavam os E.U.A e os países aliados ao terrorismo, o presidente americano tomou algumas medidas.

Auto-reconheceu o direito de serem realizadas acções de guerra preventivas contra países que estivessem associados à produção maciça de armas. Não era permitida a qualquer potência estrangeira a diminuição da enorme dianteira militar assumida pelos próprios americanos. Tendo como objectivo combater o terrorismo internacional, e defender os interesses e a segurança nacionais, desenvolveram um processo de cooperação internacional multilateral, tendo mesmo sido afirmado que “se necessário, interviriam unilateralmente sem qualquer problema”. Por fim, tiveram em conta ainda expandir a democracia e os direitos humanos por todo o mundo, sendo de uma enorme importância expandir preferencialmente pelo mundo muçulmano.

Foi criada ainda em Janeiro de 2002 na porção localizada a sudeste do território de Cuba, uma vez que em 1903 os americanos assinaram com Cuba um acordo que dava direito aos E.U.A de controlar a região e realizar operações navais, uma prisão em Guantánamo para criminosos terroristas. Foram registadas nesta prisão várias práticas desrespeitadoras dos direitos humanos, tais como torturas, abusos sexuais, espancamentos, intolerância às práticas religiosas, detenção de crianças, etc. Um dos principais objectivos das prisões foi a obtenção de informações privilegiadas dos criminosos, feita através de torturas. A maioria dos prisioneiros eram de origem afeganistã, paquistanesa e iraquiana, não tendo passado nenhum dos criminosos por uma acusação formal nem por qualquer julgamento. De acordo com os relatórios divulgados, alguns prisioneiros seriam inocentes e ficariam detidos durante anos. Muitas pessoas, como professores, idosos, adolescentes, doentes psiquiátricos, entre outras pessoas que não tinham qualquer ligação a acções terroristas nos Estados Unidos, foram incriminadas com base em depoimentos falsos, muitas vezes obtidos por meio de torturas, entre outros.


Prisão de Guantánamo


                                           Algumas imagens da prisão de Guantánamo

Tendo em conta a Doutrina Bush, os americanos encetam desta forma alguns planos.

Invadem o Afeganistão no final de 2001 a fim de capturarem Osama Bin Laden, considerado o responsável pelos ataques do 11 de Setembro. Contudo, os americanos não conseguiram capturá-lo, acabando apenas por destituir o Governo islamita radical dos Taliban e democratizá-lo. Depois dos americanos saberem que o governo iraquiano possuía armas de destruição maciça e que apoiava o terrorismo internacional, decidiram-se a invadir o seu país, removendo do governo e prendendo o seu presidente Sadam Hussein juntamente com o seu respectivo grupo político-militar, em 2003. 
Soldados americanos embarcam em um helicóptero
Boeing CH-47 Chinook durante operação no
Afeganistão

“Esta noite, os Estados Unidos apresentam as suas exigências aos talibãs (...conhecidos pelo nome de Al-Qaeda...). Entreguem às autoridades americanas todos os dirigentes da Al-Qaeda que se escondem no vosso território. Fechem imediatamente, e de forma permanente, todos os campos de treino terroristas no Afeganistão e entreguem os terroristas às autoridades competentes. [...]” (Discurso de George W. Bush no congresso dos EUA, 20 de Setembro de 2001)


                                Curta metragem sobre a invasão dos EUA no Afeganistão

Barack Obama, sucessor
de George W. Bush na
presidência dos Estados
Unidos da América
Uma vez que havia não havia firmeza nas razões que tinham levado ao despoletar desta guerra, o descontentamento por parte dos partidos políticos aumentava, e o objectivo de democratizar o Iraque era cada vez mais difícil de realizar, a indignação para com a administração política de George W. Bush foi crescendo cada vez mais, quer no próprio país, quer no mundo. Por conseguinte, em Dezembro de 2008, sucede Barack Obama, que afirmou nas suas campanhas que “mudaria o rumo da política norte-americana”.


                                           Discurso de Barack Obama após a
                                            vitória nas eleições de 2008

Acho que eu não estava preparado para a guerra. (Autocrítica de George W. Bush em relação à Guerra no Iraque)

Os E.U.A fizeram ainda campanhas e, paralelamente, ameaças, de modo a denunciarem a existência dos programas nucleares da Coreia do Norte e do Irão.

Uma economia próspera e crescente

Os americanos eram um povo que se orientava em função dos princípios liberais já definidos em 1976, sendo que a ”livre empresa”, ideal central da filosofia económica americana, e a livre concorrência eram incentivadas pelo Estado na economia americana, uma economia livre e aberta.

Foi graças  a estes factores que os E.U.A desenvolveram assim uma economia mais livre e mais aberta ao mundo inteiro. Nesta economia, estavam mais que garantidas as condições para uma competitividade elevada: a acção do Estado na regulamentação económica não se fazia notar, bem como quase não havia restrições à livre circulação de mercadorias e capitais. Por conseguinte, a economia americana, com um PIB (Produto Interno Bruto) de mais de 12 biliões de dólares, assegurou sempre um primeiro lugar na liderança mundial.

Melhor dizendo, até finais dos anos 70, os Estados Unidos eram um país onde a abundância de produção e consumo de bens duradouros predominava; e onde também surgiu um novo capitalismo industrial, baseado no desenvolvimento tecnológico cada vez mais inovado e num sistema produtivo extremamente intenso. Os americanos estavam totalmente ligados a uma enorme rede de pequenas empresas, repletas de dinamismo e espírito de inovação. Eram um país que demonstravam grandes interesses económicos no estrangeiro, recebiam enormes investimentos de todo o mundo, e tinham um mercado irresistível.

Quer Ronald Reagan, quer George H. W. Bush, pretenderam não só expandir este processo produtivo, mas também quiseram reconhecer a hegemonia americana mundialmente, tendo para isso ambos adoptados algumas medidas neoliberais.

Logótipo da Coca-Cola
Procedeu-se à atenuação das restrições aos despedimentos e à deslocação de mão-de-obra excedentária, bem como se reduziram a carga fiscal e os encargos com a segurança social. Para que nas unidades agrícolas e pecuárias americanas a produtividade aumentasse e, por sua vez, os custos da produção diminuíssem, aproveitando os avanços científicos (por exemplo o cultivo de produtos transgénicos), investiu-se fortemente em maquinaria e equipamento de alta qualidade, sendo que os E.U.A são considerados actualmente os maiores exportadores de produtos agrícolas, apesar da forte concorrência existente por parte da União Europeia. A Boeing, empresa que se dedica à criação de gado, e a Coca-Cola, proprietária de vinhedos e pomares de citrinos, são empresas muito conhecidas no mundo que nunca puseram de lado o facto de investirem também no ramo da agropecuária.


O conjunto de indústrias americanas, associadas à produção de sementes, de maquinaria agrícola, embalagem, comercialização e transformação dos seus produtos, entre outras, constituíam assim grande complexo industrial.

Ainda que grande responsável por toda esta grande produção mundial, mais concretamente, um quarto, a indústria americana sofreu algumas transformações no sentido de se adaptar a novas condições financeiras e económicas consequentes do seu progresso. Alguns sectores industriais como o têxtil e a siderurgia entraram em declínio, tendo sido por isso alguns ramos deslocados para as regiões do Sul. Em virtude das condições climatéricas que favoreciam a sua instalação, e do facto de estar localizada perto do Pacífico e da América Latina, o que facilitava o contacto com estas zonas, a região do Sun Belt foi onde se fixaram grandes indústrias de elevada tecnologia como a electrónica, aeronáutica, aerospacial, entre muitas outras).

Divulgou-se o uso do crédito aos produtores e consumidores para que, não só as grandes empresas, depois de terem investido, não tivessem que esperar tanto tempo pela realização, mas também para que os consumidores pudessem usufruir o mais rápido possível dos respectivos bens comprados. Incentivou-se o uso do dólar através da sua valorização e da liberalização duradoura da sua circulação financeira mundial, com vista a atrair capitais de outros países e a recuperar ao mesmo tempo capitais americanos que tinham sido investidos noutras regiões do mundo. De modo a garantir uma presença militar imponente, que pudesse controlar a produção e o fornecimento do petróleo, uma das matérias-primas que estava na base do desenvolvimento económico americano, entre muitas outras economias que também faziam uso do mesmo, realizaram-se reuniões políticas priviligiadas com alguns países da região do Golfo. Expandiu-se ainda o mercado externo por via de relações económicas com novas regiões em vias de desenvolvimento, com o grande objectivo de explorar os seus recursos, através de investimentos directos de capitais ou movendo empresas que aproveitassem mão-de-obra a baixo custo e matérias-primas locais.

Caricatura da Organização NAFTA
É com base nestas medidas que Bill Clinton, tendo estado na presidência americana desde 1993 até 2001, estableceu relações comerciais com o Sudeste asiático, no âmbito da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico), sendo posteriormente criada a NAFTA – North American Free Trade Agreement (Acordo de Comércio Livre da América do Norte). A APEC, que se constituía como um organismo intergovernamental de consulta e cooperação económica, tornou-se mais tarde um poderoso bloco económico que teve como principal função promover o livre comércio entre vinte países de uma região em forte crescimento. Entretanto, a NAFTA, motivada por interesses americanos, também foi criada, ficando responsável pela integração das economias do Canadá e do México.

Esteve para ser criada ainda a ALCA (área de Livre Comércio das Américas), que seria a maior área de comércio livre do Mundo, mas esta não foi possível devido à oposição de um grande número de organizações latino-americanas.

Graças ao seu imenso poderio e à sua dimensão, a economia americana, responsável por um quarto da produção mundial, era a maior economia do mundo, sendo que muitos outros países estavam dependentes desta economia, pois a evolução dos muitos indicadores sobre o estado da economia americana era observada diariamente. 

Caracteriza-se por ser uma economia predominantemente terciarizada, visto que a sua economia não só serve um mercado gigante interno de serviços responsável por cerca de 70% do PIB, mas também exporta serviços próprios para o resto do mundo, através do alargamento de empresas multinancionais de seguros, bancos, turismo, alimentos e bebidas, vestuário, cinema, música, entre outros. No que toca ao sector primário, foram canalizados investimentos de modo a modernizar o desenvolvimento tecnológico e científico da agricultura, tendo ficado os americanos como os maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas; paralelamente, este sector contribuía também para o desenvolvimento da indústria ligada à mecanização de actividades rurais e produção alimentar. Por fim, o sector industrial, que fora o que mais evoluiu na segunda metade do século XX, estava associado ao dinamismo de indústrias de alta tecnologia que eram utilizadas por mercados mundiais que concorriam contra as economias da Ásia-Pacífico.

Progresso científico-tecnológico

Conhecidos pelo seu imenso prestígio no ramo da ciência e tecnologia desde o período da Guerra Fria, tendo em conta as suas inovações no campo das telecomunicações, informática e robótica, os Estados Unidos continuaram a dar prioridade ao seu desenvolvimento, que constituiu um factor de grande importância no crescimento da economia americana e originou a terceira revolução industrial.

“Nos nossos dias, os EUA são líderes em semiconductores, com a Intel; em software com a poderosa Microsoft e outras empresas; em informática, com a IBM, a Dell Computer; em telecomunicações com a Lucent Technologies e Cisco, sem esquecer o multimédia com a “megafusão” da AOL – Time Warner [...]. A internet é bem um fenómeno americano... em que... o (seu) impacto... sobre a economia e os mercados financeiros, nomeadamente com o desenvolvimento do comércio online se estende(u) a todos os sectores da economia.” (Michel Goussot, 2000 – Les États Unis dans la Nouvelle Economie Mondiale, Paris, Armand Colin)

Prosseguiram de igual forma as investigações tecnológicas e científicas, apostando grandes quantias monetárias. Mais concretamente, eram a nação que mais gastava em investigação tecnológica. É com estas apostas que a economia americana também se expandiu mundialmente, sendo algumas causas responsáveis a massificação do computador pessoal e, mais tarde, a criação da World Wide Web. Surgiram também parques tecnológicos – os tecnopolos - que estableceram parcerias com universidades, responsáveis pela pesquisa científica, e com empresas, que fazendo recurso à inovação tecnológica, apresentam essa mesma pesquisa nos grandes mercados internacionais. Um dos mais famosos tecnopolos localiza-se em Silicon Valley, Califórnia, tendo este sido o local de nascença da Internet.

Imagem de Silicon Valley
“Depois de ter sido dinamizada pelos comandos militares nos anos 60 do século XX, pela revolução dos semicondutores nos anos 70, pela dos microprocessadores e dos PC nos anos 80, depois pela Internet nos anos 90, a Califórnia vive os anos 2000 ao ritmo da instrumentalização médica avançada, uma combinação do software e das biotecnologias. Só em Silicon Valley, 37000 pessoas trabalham já neste sector, a maior concentração de todos os Estados Unidos.” (Artigo do New York Times, 20 de Janeiro de 2003)

Logótipo da Microsoft
Mais para o fim do século XX, surge um novo “motor da economia mundial”, a Microsoft, uma empresa que veio facilitar na movimentação de dinheiro na Bolsa de Wall Street. Esta nova realidade ficou designada de “economia digital” ou de “nova economia”, à qual aderiram ao seu novo discurso alguns média e empresários. Aquando da origem de uma nova vaga de empreendedores, estes aproveitaram a janela de oportunidade e criaram novos sectores, gerando riqueza e dando a conhecer ao mundo esta nova forma de como fazer.


Bolsa de Wall Street

Consolidação da comunidade europeia

Remontando ao ano de 1973, formou-se a Europa dos Nove, com base no ideal de se realizar uma Europa unida, formadas por nações orgulhosas e independentes. Esta Europa teria então como principais objectivos integrar as novas democracias da Europa de Sul e consolidar as relações entre os estados-membros, bem como seria necessária a constituição de uma unidade política.

Como se pode ver em letras pequenas, este é um mapa ilustrativo da União Europeia em 2009

Entrada da Grécia, Portugal e Espanha na Comunidade Europeia

Em meados da década do século XX, após as tão desejadas democracias instauradas, Portugal, Grécia e Espanha puderam passar a integrar a Comunidade Europeia. Depois de terem sido então implementadas medidas relativas à promoção do cumprimento dos restantes critérios, e de terem recebido ajudas da Comunidade Europeia, Grécia, em 1981, e Portugal e Espanha, em 1986, são reconhecidos oficialmente como membros da Comunidade Europeia, passando a existir a Europa dos Doze.

Imagem das bandeiras da União
Europeia e de Portugal juntas,
ilustrativa da adesão de Portugal
à CEE em 1986
“Para Portugal, a adesão à CEE significa... [...] ... a oportunidade de sair definitivamente do seu isolamento político, abrindo-lhe ao mesmo tempo um futuro e a possibilidade de saneamento económico do país. Esta confiança adquirida com a adesão levará à reanimação da indústria e, sobretudo, aos investimentos, necessários por parte das grandes empresas... [...] ... Portugal espera da CEE, a par dos apoios financeiros, uma ajuda no sentido de orientar e dar impulso à reestruturação económica, em especial no sector agrícola.” (Em A Unificação Europeia, Criação e Desenvolvimento da Comunidade Europeia, Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, Luxemburgo, 1986)




   Pequeno vídeo sobre a adesão de Portugal à CEE

A CEE, idealizada como um organismo aberto, foi criando um conjunto de instituições crescentemente organizadas e interventivas, ao mesmo tempo que actuavam na esfera económica e social. Tinha-se acordado então entre todos os Estados-membros o estabelecimento de uma política agrícola comum, de medidas com vista combaterem o desemprego, a ajudar regiões menos favorecidas, de um sistema monetário europeu, entre outros opções feitas.

Jacques Delors
Dado que se vinham enfrentando um período de marasmo e descrença nas potencialidades e no futuro da Comunidade Europeia,  a partir do ano em que Jacques Delors ascende ao cargo de presidente da Comissão Europeia, 1985, a Comunidade Europeia levará a cabo um processo de criação e consolidação das instituições que originarão assim a designada União Europeia, assim como também se empenhará no avanço da União Económica.

“A criação da união monetária é um grande passo para diante. Em primeiro lugar, porque a moeda única é um poderoso factor de integração... Em segundo lugar, porque as velhas nações europeias demonstraram ser capazes de renunciar ao exercício de uma parcela significativa dos seus poderes soberanos, transferindo esse exercício para o Banco Central Europeu, uma instituição de tipo federal, independente dos governos nacionais. [...] ... a União é uma potência económica dotada de uma moeda capaz de rivalizar com o dólar norte-americano no mercado mundial.” (Luís Beiroco, 2004 – A Europa passível, Lisboa, Ed. Livros do Brasil)





Acordos de Schengen

Em junho de 1985, foram feitos acordos, na cidade luxemburguesa de Schengen, entre os governos francês, alemão, belga, luxemburguês e holandês, nos quais ficaram definidos a criação de um espaço sem restrições à circulação de pessoas. Neste acordo seria então criada uma fronteira externa única, não havendo qualquer controlo fronteiriço interno (terrestre, marítimo e aéreo), e ficavam ainda establecidas medidas que visavam a segurança dos cidadãos. Em 1997, o espaço Schengen englobava todos os países da União Europeia, com excepção da Irlanda e do Reino Unido. Concluindo, neste acordo ficava proposto então que: qualquer país que integrasse este espaço estaria sujeito às condições de entrada de estrangeiros (populações não comunitárias) no espaço Schengen e à circulação pelas fronteiras internas dos respectivos estados-membros; tinham sido fixadas políticas relativas à concessão de vistos de entrada e de asilo; a recuperação entre os sistemas policiais e judiciários dos países membros foi reforçada, com a finalidade de o crime organizado e, até mesmo, o terrorismo, serem combatidos.

A assinatura deste documento despoletou a revisão de tratados anteriores, tais como o de Paris, assinado em 1951, e o de Roma, assinado em 1957. Esta revisão teve como objectivo conjugar nestes documentos aspectos de carácter político e económico, que se encontravam noutros documento mais antigos.

Acto Único Europeu: o mercado único

Esta conjugação originou, consequentemente, a criação de um Acto Único Europeu, assinado em 1986, que veio principalmente aumentar o carácter supranacional dos órgãos do governo comunitário e acelerar a união económica da Europa, entre outras funções.

A fim de possibilitar a realização deste acordo, Delors publicou o Livro Branco, no qual constavam as medidas a tomar e os respectivos prazos, tendo encomendado para esse efeito um estudo económico elaborado sobre os custos da “não Europa”. Graças ao Livro Branco e às perspectivas económicas retiradas do estudo encomendado por Delors, foi permitido o avanço por empresas, sindicatos e governos para o projecto do mercado único.

Conselho da Europa
Ficou juridicamente instituído o Conselho da Europa, organismo responsável pela definição de orientações políticas de carácter geral, no qual os chefes de Estado e do Governo dos Estados Membros se reuniam periodicamente. Os poderes do Parlamento Europeu foram reforçados, tendo passado a competir a este discutir e aprovar matérias de interesse comum relativas a assuntos da vida económica, social, política e cultural de cada país. Tomaram-se medidas com vista ao progressivo estabelecimento do mercado único, por meio da abolição total das fronteiras internas à circulação de pessoas, mercadorias, serviços, capitais, entre outros, até ao fim de 2002. Desenvolveu-se um processo de coordenação da política económica e monetária dos estados-membros, que visava instituir uma moeda única. Aprovaram-se medidas que tinham como principais fins o respeito pelos direitos sociais da população, incentivar a investigação e inovação tecnológica e proteger o meio ambiente. Por fim, reformaram-se os fundos estruturais e de coesão, com o propósito de reduzir as diferenças dos níveis de desenvolvimento dos estados-membros ou de certas regiões, e de obter uma maior coesão económica e social.

Tratado da União Europeia

Logótipo da União Europeia
Outro tratado foi assinado em Dezembro de 1992, numa cimeira realizada na cidade holandesa de Maastricht - o Tratado de Maastricht - que entrou em vigor em Novembro de 1993. Este tratado veio modificar alguns textos de outros tratados anteriores, particularmente do Acto Único Europeu, tendo substituído a antiga Comunidade Europeia pela nova e oficialmente reconhecida União Europeia. 

De acordo com este tratado, a União Europeia passou a organizar-se com base em três “pilares”, sendo que o primeiro se reportava ao carácter comunitário e os outros dois reportavam-se ao carácter intergovernamental.


"O Tratado de Maastricht reconheceu formalmente que a justiça e os assuntos internos costituíam matéria de interesse comum e criou uma estrutura legislativa específica para tratar a legislação nestes domínios, muitas vezes também denominada como o terceiro pilar da UE, para distinguir da maioria das responsablidades tradicionais da UE - primeiro pilar - e da política externa e de segurança - segundo pilar. A legislação aprovada destas regras consistia, na prática, em acordos intergovernamentais juridicamente vinculativos na UE." (A Europa, o Desafio Demográfico e o Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça, Debate no Centro Cultural de Belém a 18 de Outubro de 2002, Parlamento Europeu Portugal)


                                  Pequeno resumo da União Europeia com 27 membros

O primeiro pilar destinou-se essencialmente à dimensão económica e social.

Alargou-se a intervenção da União Europeia a domínios que não faziam parte até então, como a saúde, a educação, a cultura e a protecção dos consumidores. Promoveu-se a cooperação entre os estados-membros para o desenvolvimento,  com vista à inovação e ao desenvolvimento tecnológico, à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e à defesa do ambiente. Foi aprovada a Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores, em 1989, que teve em conta a protecção social dos trabalhadores. Procedeu-se ao reforço da coesão económica e social em países mais que se encontravam mais atrasados, como Grécia, Espanha, Irlanda e Portugal. A noção de cidadania europeia ganhou uma dimensão maior: foi atribuído a todos os cidadãos comunitários o direito de votarem e serem eleitos em eleições locais e europeias, de acordo com o critério do local de residência e não no da nacionalidade; foi-lhes concedido o direito de protecção diplomática em países terceiros por qualquer país na União Europeia; passaram a haver o direito de petição directa ao Parlamento Europeu, bem como o direito de acesso ao provedor de Justiça comunitário. Extinguiu-se o Sistema Monetário Europeu, que veio dar origem à União Económica e Monetária; e foram fixados ao mesmo tempo prazos do processo de conversão da unidade monetária de referência, tendo sido criado como elemento central do sistema o ECU (European Currency Unit), assente numa moeda que conseguisse substituir todas as outras – o euro.

“Artigo 8.º - 1. É instituída a cidadania da União.
É cidadão da União qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-membro.
2. Os cidadãos da União gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres previstos no presente Tratado.
Artigo 8.º A – 1. Qualquer cidadão da União goza do direito de circular e permanecer livremente no território dos Estados-membros [...].
[...]
Artigo 8.º D – Qualquer cidadão da União goza do direito de petição ao Parlamento Europeu, nos termos do disposto no artigo 138.º D.
Qualquer cidadão da União pode dirigir-se ao Provedor de Justiça instituído nos termos do artigo 138.º E.”
(Tratado da União Europeia, 1992)

Após o primeiro pilar estar consolidado, a União Europeia era a maior potência comercial do mundo, com um PIB semelhante ao dos Estados Unidos da América: possuía um mercado interno com um elevado nível de consumo, uma mão de obra muito qualificada, além de uma densa rede de transportes e comunicações. No entanto, já em 1998, registou uma economia mais fraca, quando comparada com a economia americana, assim como uma taxa de desemprego cada vez maior, e uma população envelhecida.







“Mesmo em 1990, a “antiga Europa Ocidental” (que era agora a União Europeia mais a Suiça) já constituía um dos três principais actores da nova economia mundial, moldada desde 1950. Representava cerca de 75% do comércio mundial (maioritariamente) entre os seus estados-membros) e 40% do PIB do mundo. O seu PIB era, em 1990, maior que o dos EUA (e o dobro do Japão).” (J. M. Roberts, História do Século XX, Volume II)

No segundo pilar deu-se relevo à política externa e à segurança comum (PESC).

Este pilar visou falar a uma só voz e agir em conjunto no contexto internacional; e preocupou-se em proteger todos os pontos de vista de cada um dos estados e as suas vocações históricas. São então os chefes de Estado e de Governo dos vários países da União Europeia, que constituem o Conselho Europeu, que darão as orientações gerais , de acordo com a vontade da maioria qualificada reforçada, sendo necessária a concordância de, no mínimo, oito estados-membros.

O terceiro pilar assenta na cooperação entre a justiça e os assuntos internos, de modo a superar os crescentes ataques criminais e terroristas à escala internacional cada vez melhor organizados, às pressões migratórias exercidas sobre a Comunidade e ao não controlo nas fronteiras internas. É establecida ainda não só uma política de concessão de vistos, mas também de asilo e desenvolve-se a cooperação policial que culminará na criação da EUROPOL, um sistema de intercâmbio de informações de carácter criminal.

Os três pilares da União Europeia
COMUNIDADE EUROPEIA
(Reúne as três comunidades fundadoras: a CEE (agora CE), a CECA e a EURATOM)
Tem competência em matéria de política agrícola, mercado interno, ambiente, direito dos cidadãos, união económica e monetária, política, regional, etc.
POLÍTICA EXTERNA E DE SEGURANÇA COMUM
Ainda embrionária, tem-se concretizado na tomada de “posições comuns” e “acções comuns”, por exemplo
JUSTIÇA E ASSUNTOS INTERNOS
Orienta a política em matéria de asilo, imigração, luta contra a droga, cooperação entre polícias, etc.

Ainda em 1993, é preparada a Cimeira de Copenhaga, onde se definiram os critérios que permitiam a adesão de outros países à União Europeia: instituições democráticas, economia de mercado rentável, respeito pelos Direitos do Homem, bem como a aceitação de textos comunitários.


"O Conselho Europeu de Copenhaga dedicou especial atenção, por um lado, às acções tendentes a solucionar os problemas económicos e sociais enfrentados pela Comunidade, e, em especial, o do nível inaceitavelmente elevado de desemprego e, por outro, ao amplo leque de questões relacionadas com a paz e a segurança na Europa, reconhecendo que a Comunidade só poderá contar com o apoio permanente da opinião pública para a construção da Europa se se provar que contribui efectivamente para a segurança e o bem-estar de todos os cidadãos." (50 anos de Europa, os grandes textos da construção europeia, Parlamento Europeu Portugal)   


Caricatura da "Cimeira de Copenhaga"

Tratado de Amesterdão

Em Amesterdão, na Holanda, assina-se em Outubro de 1997 outro tratado, que só entrará em vigor a partir de 1 de Maio de 1999 – o Tratado de Amesterdão. Este tratado não só veio continuar a pôr em prática os princípios já referidos nos outros tratados, mas veio também dar especial atenção ao problema da disciplina orçamental, de modo a garantir o bom funcionamento da União Económica e Monetária (UEM). Para isso, foi adoptado um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) que consistiu na promoção das medidas necessárias, por parte de todos os estados-membros, com vista a: evitar que o défice público excedesse o valor de 3% PIB; impedir que a dívida pública não aumentasse o PIB em 59%; e manter a taxa de inflação abaixo de 1,5% da taxa de inflação média dos três estados membros que tivesses os melhores resultados. Foi criado ainda o Banco Central Europeu, organismo este que teve como funções coodenar a política económica e monetária da União Europeia e assegurar o desenvolvimento comum. São então definidos os critérios essenciais para a criação do euro prevista para a 1 de Janeiro de 2009, que só se vê verdadeiramente concretizada a 1 de Janeiro de 2002 em todos os países, com excepção do Reino Unido, Dinamarca e Suécia.


"Artigo 9.º 


O Banco Central Europeu


9.º.1. O BCE que, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 106.º do presente Tratado, tem personalidade jurídica, goza, em cada um dos Estados-membros, da mais ampla capacidade jurídica reconhecida às pessoas colectivas pelas legislações nacionais, podendo designadamente adquirir ou alienar bens móveis e imóveis e estar em juízo.


9.º.2. O BCE assegurará que as atribuições cometidas ao SEBC nos nºs 2, 3 e 5 do artigo 105.º do presente Tratado sejam executadas, quer através das suas próprias actividades, nos termos dos presentes Estatutos quer através dos bancos centrais nacionais, nos termos do artigo 12.º.1 e do artigo 14.º


9.º.3. De acordo com o disposto no nº 3 do artigo 106.º do presente Tratado, os órgãos de decisão do BCE são o Conselho do BCE e a Comissão Executiva." (Tratado da União Europeia; Conselho das Comunidades Europeias, Comissão das Comunidades Europeias)
    
Banco Central Europeu

Tratado de Nice

"Longa escalada que a Turquia tem que fazer
para alcançar a União Europeia"
Por fim, assina-se um último tratado em Dezembro de 2000, que só entra em vigor em Fevereiro de 2003 – o Tratado de Nice. Este tratado procurou alargar a União Europeia aos países do Leste da Europa. Isto é, depois da Finlândia, Áustria e Suécia, em 1995, terem aderido, é a vez da República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Polónia, Hungria, Estónia, Letónia, Lituânia, mais dois países ocidentais, Malta e Chipre, aderirem a 1 de Maio de 2004 à União Europeia. Espera-se ainda a adesão da Turquia, da antiga República jugoslava da Macedónia e da Croácia, num futuro próximo.

“O alargamento de 2004 não é como os outros: é o resultado da queda do muro de Berlim, do fim da Guerra Fria e da reunificação da Alemanha. [...] No horizonte de 2004 do alargamento de 2004 desenha-se a unificação da Europa através do reencontro do Ocidente e do Oriente. A entrada na Comunidade foi conseguida pelos países candidatos graças ao seu enorme esforço, tendo sido plenamente atingidos os critérios de convergência establecidos em 1993 em Copenhaga, no que diz respeito aos padrões de democracia e de respeito pelos direitos humanos. [...] Devemos considerar a necessidade de o Leste alcançar o Ocidente como um dos mais formidáveis desafios da história moderna do nosso continente.” (Bronislaw Geremek, historiador e político polaco (1932-2008), em Le Monde, 30 de Janeiro de 2004)

Dificuldades na concretização de uma Europa política

Ainda que a consolidação do primeiro pilar tenha sido a mais eficaz, sobretudo aquando da definitiva circulação do euro, a União Europeia deparou-se com algumas dificuldades em consolidar o segundo pilar e o terceiro, relativos à união política e diplomática.

Caricatura ilustrativa da "desordem" presente face ao
establecimente de uma união política e diplomática
No que tocou ao nível político, muitas populações, nomeadamente as dos países mais desenvolvidos e que davam relevo ao seu passado, não aceitaram bem a ideia de perderem a sua soberania. Entre estas populações destacam-se o Reino Unido, que nunca aceitou a adopção do euro, bem como a Suécia e a Dinamarca. Após a aprovação do Tratado da União Europeia, que veio fortalecer a união política e económica dos estados-membros, cresceu cada vez mais o número de “eurocépticos” e a resistência a todas as medidas que implicavam a transferência da soberania.  Eurocépticos foi o termo dado ao conjunto de países que não apoiava a doutrina política da União Europeia. Para os eurocépticos, o modelo económico-social europeu devia seguir uma federalização dos Estados-membros da União, sendo necessário defender a soberania nacional e a independência decisiva das instituições próprias das Nações europeias. No campo político português, o eurocepticismo é representado pelo partido Nova Democracia (PND) fundado por Manuel Monteiro e pelo Partido Nacional Renovador (PNR), de José Pinto Coelho. Ao mesmo tempo, o sentimento de abertura à formação de uma Europa unida e menos federal tem sido cada vez menor, dada a integração de novos povos com culturas e passados políticos diferentes da cultura e política ocidental. Nos últimos 50 anos, tem aumentado a divisão entre os que se opõem a toda e qualquer forma de união europeia, aqueles que defendem um quadro de colaboração entre estados soberanos (unionistas) e os que crêem na criação de uma espécie de Estados Unidos da Europa, com um governo único e supranacional (federalistas).

Margaret Thatcher, 1ª ministra-
britânica 
“Uma cooperação voluntária e activa entre estados soberanos e independentes é o melhor meio de construir uma Comunidade Europeia bem-sucedida. [...] É abolindo as fronteiras e dando às empresas a possibilidade de operar à escala europeia que melhor poderemos concorrer com os Estados Unidos, o Japão e as outras potências económicas que emergem na Ásia. [...]” (Discurso da primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, 20 de Setembro de 1998, em Bruges)
   
Já ao nível económico, a União Europeia tem-se revelado cada vez mais incapaz de resolver o problema do desemprego, o que não favorece a existência de um sentimento europeísta. Isto pode ser explicado tendo em conta os elevados índices de abstenção que se registaram nas eleições para o Parlamento Europeu; a oposição à adopção de uma política externa comum mostrada pelas divisões que intervinham no Iraque; e a controvérsia suscitada pelo projecto de Constituição Europeia, tendo sido então tomadas medidas com vista a consolidar a união política.

ELEIÇÕES EM PORTUGAL

Abstenção
Europeias 1999
59,71%
Legislativas 2002
37,66%
Europeias 2004
61,20%
Legislativas 2005
34,98%


Em 2002 realizou-se a Convenção para o Futuro da Europa, que ficou responsável de apresentar propostas sobre três importantes questões: aproximar os cidadãos do projecto europeu e das instituições europeias; estruturar a vida política e o espaço público europeus numa União alargada; tornar a União um factor não só de estabilização mas também de referência na nova ordem mundial.

Surge no âmbito desta convenção, portanto, um projecto de constituição europeia que propunha a criação de um ministro dos Negócios Estrangeiros da Europa, responsável pelas posições em matéria de política externa, bem como o prolongamento do mandato do presidente do Conselho Europeu, que se alargou de seis meses a dois anos e meio. Esta constituição, que tinha como principal fim dar “uma identidade” à União Europeia, não se chegou a concretizar devido ao “travão” posto pela França e pela Holanda, que a rejeitaram.

Tratado de Lisboa

Assinatura do Tratado de Lisboa
Em Dezembro de 2007 assina-se um Tratado reformador da Constituição Europeiao Tratado de Lisboa – assinado em Lisboa por todos os Estados-membros. Este tratado veio ampliar ainda mais o o direito de participação dos cidadãos na política comunitária, a fim de aproximar os europeus das suas instituições. Mesmo sendo mais consensual, foi rejeitado apenas pela Irlanda. De modo a superar os vários desafios que os Estados-Membros já não são capazes de enfrentar sozinhos,  a Europa deve modernizar-se. Deve dispor de utensílios eficazes e coerentes adaptados não só ao funcionamento de uma União Europeia recentemente alargada de 15 para 27 membros mas também à rápida evolução do mundo actual, assim como as regras de vida em comum consagradas nos tratados devem ser, por conseguinte, renovadas. Foi nesta conjuntura que se veio a assinar o Tratado de Lisboa. A fim de adaptar as instituições europeias e os seus métodos de trabalho, reforçar a legitimidade democrática da União Europeia e consolidar a base dos seus valores fundamentais, clarificar papéis e dar maior acesso ao público para documentos e reuniões , torná-la mais unida na cena mundial como Alto Representante dos Negócios Estrangeiros, etc.
Também em 2007, entraram para a União Europeia a Bulgária e a Roménia.  

“Artigo 11.º [...] Um milhão, pelo menos, de cidadãos da União, nacionais de um número significativo de Estados-membros, pode tomar a iniciativa de convidar a Comissão Europeia a... apresentar uma proposta adequada em matérias sobre as quais esses cidadãos considerem necessário um ato jurídico da União para aplicar os Tratados.

Artigo 15.º [...] O Conselho Europeu elege o seu Presidente por maioria qualificada, por um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez. Em caso de impedimento ou de falta grave, o Conselho Europeu pode pôr termo ao seu mandato, de acordo com o mesmo procedimento. 
[...]
O Presidente do Conselho Europeu não pode exercer qualquer mandato nacional. [...]” (Tratado de Lisboa, 2007)  


Organigrama do funcionamento dos principais órgãos de poder da União Europeia, em 2008

Afirmação do espaço económico Ásia-Pacífico

Tal como o Japão, também o Este e Sudeste da Ásia, conhecidos como “Arco do Pacífico”, ascendem de economias tradicionais para grandes indústrias mais tarde, nos inícios dos anos 70, dado o seu poderoso crescimento económico. Ficou atribuído o nome de “Dragões Asiáticos” ao grupo formado pela Coreia do Sul, Hong-Kong, Taiwan e Singapura que se destacaram pelas suas crescentes economias. A estes juntaram-se posteriormente, nos anos 80, a Malásia, a Tailândia, a Indonésia e as Filipinas, os chamados “Tigres Asiáticos”. Só mais tarde se veria a República Popular da China emergir ao lado destes.

“Primeiro foi o milagre económico japonês. Depois o rápido crescimento dos pequenos dragões (Hong-Kong, Coreia do Sul, Taiwan e Singapura). Mais recentemente a emergência dos países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), em particular a Tailândia, Malásia e a Indonésia. Agora chegou a vez da China e do Vietname. [...]” (Revista Exame, Maio de 1994)

Arranque da industrialização
Países
1950-60
Japão
1960-70
“Quatro Dragões”
1970-80
Países da ASEAN
1980-90
Rep. Popular da China


“Dragões asiáticos” – o primeiro grupo económico Ásia-Pacífico

Orientados em função dos princípios de produção e exportação de bens de consumo, e após o sucesso do Japão, a Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e Taiwan tornaram-se assim grandes pólos de desenvolvimento económico nos anos 70. Estes países eram pobres, dominavam poucos recursos naturais e energéticos, não  possuíam grandes capitais e não tinham tradição industrial.

“... o mundo ocidental do final do século inclui, de forma um tanto paradoxal, não só o Oeste ou Ocidente, numa perspectiva eurocêntrica, como igualmente zonas situadas no Oriente geoestratégico – mais precisamente, do Extremo Oriente – ou seja, nos antípodas da Europa. Assim, este mundo ocidental económico, e mesmo geopolítico, compreende um estado altamente desenvolvido, como o Japão, e os países da zona Asiática que seguiram o modelo japonês – os chamados “dragões asiáticos”: Coreia do Sul, Taiwan, Singapura...” (História Universal, Século XX (de 1945 até à actualidade), Equipa Editorial Oceano)

“[...] Em Singapura, a malha empreendedora público-privada tem identificadas meia-dúzia de grandes tendências de mercados de alto valor para o século XXI. Rápidas melhorias na relação preço-performance dos componentes das TI; aumento drástico das capacidades e da velocidade das tecnologias de comunicação; proliferação de tecnologia e de aplicações multimédia; computação sem fios. [...] Os modelos clássicos da organização dos Estados e das empresas indentificam Singapura como uma  empresa (global) e não como um país.” (Fernando Ilhardo, Público, 16 de Dezembro de 1996) 
  
Uma vez que já havia estabilidade política, os governantes destes países preocuparam-se fundamentalmente com a economia, sendo que levaram a cabo um plano de modernização e desenvolvimento económico, tal como os japoneses haviam também encetado.

O Estado passou a intervir progressivamente na economia, tendo criado linhas de crédito e dado incentivos às empresas nacionais. A mão-de-obra que se caracterizava por ser abundante, esforçada, de mentalidade conformista, e respeitadora da disciplina e da ordem, foi aproveitada para trabalhar muito e ser paga a baixos salários. Adoptaram-se políticas proteccionistas e de estímulo ao trabalho. Grupos empresariais locais ou até o próprio Estado investiram em tecnologias e capitais estrangeiros. De modo a aumentar a qualificação profissional, foram promovidos ainda vários programas de educação e formação para a população.


Evolução do Produto Nacional Bruto nas economias do Sul


Com base na electrónica e na indústria têxtil, os “Dragões Asiáticos”, e também o Japão, encheram o mercado internacional com produtos de consumo a preços muito baixos quando comparados aos das economias ocidentais, sendo estes mesmos produtos hoje muito consumidos em todo o mundo. Começaram também a dar importância à produção petrolífera, explorando por conseguinte as suas reservas.

Mais tarde, só já com algum capital, enquanto que a Coreia do Sul iniciou o investimento no sector automóvel e no sector da construção naval, os restantes países investiram na produção e respectiva especialização do sector da electrónica de elevada tecnologia.

Fabrico robotizado no sector
automóvel, na Hyundai, 2005
“A indústria robótica tem sido incentivada pelo Governo da Coreia (do sul) e desenvolve a tecnologia mais desafiadora desde 1986, quando a Daewoo concebeu e produziu o robô industrial NOVA-10 sem recurso a tecnologia estrangeira. [...] As bases da robótica inteligente estableceram-se quando o Ministério do Comércio, Indústria e Energia lançou o programa “Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias Básicas dos Robôs Pessoais”, em Outubro de 2001.” (Robôs inteligentes abrem novas portas à Coreia, em Korea.net: the official website of Republik of Korea)

Assim, o Japão e os seus novos parceiros asiáticos dominavam juntamente 60% das exportações mundiais de bens manufacturados.

Crescimento médio anual das exportações, 1970-1980 

Segundo grupo económico Ásia-Pacífico – “Tigres Asiáticos”

Nos anos 80, a Tailândia, a Malásia, a Indonésia e as Filipinas integram um segundo grupo de países asiáticos que ascendem no grupo dos Novos Países Industrializados (NPI) – os “Tigres Asiáticos” – devido ao facto de serem ricos em matérias-primas, em recursos energéticos, nomeadamente o petróleo, e em bens alimentares, produzidos grande parte pelo Japão e países vizinhos.




É graças ao abrandamento da economia ocidental que, motivando os países ocidentais a virarem-se para a economia do sudeste asiático, de modo a encontrarem mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica, na segunda metade dos anos 70, a economia asiática cresce mais, sendo que os primeiros países a beneficiar deste crescimento económico são os “dragões asiáticos” e depois, por arrastamento, serão os “tigres asiáticos”.





                                           Pequeno vídeo sobre os tigres asiáticos

Os “Tigres Asiáticos” apoiaram-se também numa mão de obra ainda mais barata, visto que esta se encontrava mais atrasada que a população do grupo dos “Dragões Asiáticos”.

É neste contexto que é criada, em Agosto de 1967, a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) – um espaço económico que tem como objectivo fazer países desta zona, dado o crescente aumento das trocas inter-regionais, concorrerem com os três grandes pólos de desenvolvimento económico: E.U.A, Europa e Japão.

PARCEIROS COMERCIAIS
PARTE NO COMÉRCIO TOTAL DA ASEAN (em %)
ASEAN
25,1
Japão
11,5
Estados Unidos
11,5
União Europeia
11,4
China
10,0
Coreia do Sul
3,7
Austrália
2,6
Índia
2,0
Taiwan
1,6
Hong-Kong
1,4
Conjunto dos 10 principais parceiros
80,9
Outros parceiros
19,1
Principais parceiros comerciais em 2006

No entanto, todo este crescimento económico asiático acarretou grandes consequências: sociais, tais como a elevada exploração dos trabalhadores e os baixos salários, e a falta de direitos que ainda hoje permanece;  e ecológicas, nomeadamente o facto de a Ásia se ter tornado, desta forma, a região do mundo mais poluída.

“ASEAN – Perspectiva 2020

Nós, os chefes de Estado/Governo da Associação das Nações do Sudoeste Asiático... [...] ... Decidimos, entre outras, tomar as seguintes medidas:
- manter a estabilidade macroeconómica e financeira da região através da harmonização das políticas macroeconómicas e financeiras;

[...]

- incrementar a livre circulação de serviços dentro da região;
- promover a liberalização do sector financeiro e uma cooperação mais estreita no campo monetário [...];

[...]

- promover o desenvolvimento do capital humano em todos os sectores de economia através de uma educação de qualidade, do aumento de competências e de treino. [...]” (Kuala Lampur, 15 de Dezembro de 1997)

Modernização e abertura da China à economia de mercado

Mao Tsé-Tung
A China só conheceu o caminho para o desenvolvimento económico no início de 1978, ano esse em que Deng Xiaoping sucede no poder político a Mao Tsé-Tung, que deixa o trono chinês em 1976, dada a sua morte. Com este novo governador no poder, é adoptado um conjunto de reformas pró-capitalistas, baseadas nos sistemas financeiros e comercial internacionais, que, a longo prazo, garantiriam melhorias na agricultura, na indústria e na economia chinesa. Deng Xiaoping dividiu a China em duas zonas geográficas diferentes: o interior rural, fechado da abertura exterior; e o litoral, aberto à influência capitalista internacional.
Deng Xiaoping




        Investimentos directo estrangeiros em territórios chineses
Inovações Agrícolas

Para o sector agrícola, foi levado a cabo um processo de descolectivização das terras que tinham sido entregues aos camponeses em regime de arrendamento a longo prazo. A mão-de-obra, sendo imensa, não requeria de uma grande modernização das técnicas agrícolas; no entanto, uma vez que a abolição da terra própria tinha sido acompanhada pela liberdade dos camponeses comercializarem os excedentes e de ficarem com os seus lucros, houve um aumento gigantesco da produtividade, sendo que a produção agrícola aumentou 50% após o processo de liberalização em somente 5 anos.

Crescimento do sector industrial e progressiva abertura ao comércio exterior

Para o sector industrial, desenvolveram-se programas de modernização económica da China, tendo-se substituído a indústria pesada pelos bens de consumo e têxteis destinados à exportação. Era necessário, pois, abrir a China aos interesses económicos estrangeiros.


“Em 1986, a China tinha-se tornado o segundo maior produtor mundial de carvão e o quarto maior produtor de aço. O PIB tinha aumentado a uma taxa superior  10% ao ano entre 1978 e 1986, enquanto, nesse intervalo de tempo, o valor da produção industrial duplicava. O rendimento camponês per capita quase triplicou e, em 1998, calcula-se que a família camponesa média tenha conseguido amealhar, em conta bancária, o equivalente a seis meses do seu rendimento. Numa perspectiva de longo prazo, o progresso é ainda mais impressionante. O comércio externo chinês aumentou um valor per capita cerca de vinte e cinco vezes superior entre 1950 e o meio da década de 1980.” (J. M. Roberts, História do Século XX, Volume II)

Foi escolhida uma estratégia institucional designada de socialismo de mercado, que aliava o carácter socialista do regime às práticas socialistas. Esta estratégia ficou, por isso, conhecida pela referência “um país, dois sistemas”. Também conhecido por “Porta Aberta”, este sistema teve como principal objectivo a criação de quatro Zonas Económicas Especiais: Shenzhen, Zuhai, Shantou e Xiamen. Estas zonas estariam abertas à instalação de indústrias (construção, turismo, têxteis e exploração de petróleo) financiadas por capitais estrangeiros e seria-lhes concedida toda a liberdade para realizarem trocas comerciais com o exterior, ou seja, era como que uma espécie de enclaves capitalistas integrados no sistema comunista.

O sucesso económico destas quatro zonas foi tanto que levou à criação de ainda mais uma zona livre na ilha de Hainan e de 14 cidades portuárias, nas quais foram permitidos negócios livres por parte das empresas chinesas e investimentos estrangeiros em valores inferiores aos das zonas económicas especiais.


Zonas geográficas onde a modernização chinesa se ia concretizando



Como tinha sido incentivada a liberalização industrial e comercial das regiões costeiras, rapidamente vieram empresas estrangeiras à procura de recursos naturais que a China detinha, além de mão-de-obra abundante e barata chinesa. É de frisar que esta massa inegostável de trabalhadores provinha abruptamente do campo, sendo mal paga e não podendo gozar de quaisquer regalias. Só os sectores estratégicos da economia não puderam usufruir desta abertura, dado que continuaram no monopólio do Estado. Foi o caso das indústrias espacial, militar e das telecomunicações.

A China apostou muito no sector manufactureiro, bem como na alta tecnologia, nos automóveis, entre outros sectores que vieram a crescer mais tarde. E, dadas as suas taxas de crescimento, a China viria a tornar-se a sexta maior economia do mundo. Com todo este crescimento económico, em 1992 começa então a funcionar a Bolsa de Valores de Xangai.  
Bolsa de Valores de Xangai
O crescimento económico da China tem sido espantoso desde 1981, tendo sido o PIB chinês em 2007 o quarto maior do mundo.

“A competição chinesa é o pre-âmbulo de uma economia global repleta de novos actores. [...] A China é, obviamente, um temível competidor. Desde 1990 as suas exportações cresceram 13 vezes. O PIB quintiplicou. Recebe 1,5 mil milhões de dólares de investimento  estrangeiro por semana. Dentro de 20 anos, deverá ser a maior economia do mundo, com a dos EUA em segundo, a da Índia em terceiro, enquanto a União Europeia (EU) se irá secundarizando. [...]” (Pedro Jordão, As Ameaças Chinesas, em revista Visão, 15 de Junho de 2006)

Reatamento das relações com os blocos económicos capitalistas

Este enorme desenvolvimento económico chinês só foi possível graças ao establecimento de relações diplomáticas com outros países capitalistas.

Após a integração da China no mercado asiático, a China formaliza em 1978 a paz com o Japão, terminando deste modo o conflito que perdurava desde a segunda Guerra Mundial aquando da invasão da Manchúria. Em 1979, reatava relações diplomáticas com os EUA. Desde 1971, altura em que a China tinha aderido à ONU, que o seu entendimento com o Ocidente passou a ser mais fácil, tendo a China assim integrado grandes instituições económicas e financeiras internacionais, tais como o Banco Mundial e o FMI em 1980; é integrada no GATT em 1986; e, em 2001, é reconhecida a sua adesão à Organização Mundial do Comércio

Política Chinesa

No que tocou ao ramo político, este já não teve a mesma abertura que o ramo económico, visto que o Partido Comunista não parou de exercer as suas funções políticas e a liberdade individual continuou, por e simplesmente, sem existir.

Eram notórias grandes desigualdades sociais, fruto das diferenças no acesso da população chinesa às oportunidades provocadas pela grande concentração do desenvolvimento económico em determinadas zonas. Começava por aparecer uma poderosa burguesia empresarial nas zonas costeiras, originada através de um imenso operariado urbano; já no interior, predominavam as classes camponesas empobrecidas, que não possuíam condições para usufruir de uma modernização económica do país. Era visível ainda a inflação, provocada pela liberalização da economia, sendo que a economia chinesa era uma economia onde os preços eram controlados pelo Estado e onde havia redução e supressão dos mecanismos tradicionais de segurança social. Esta inflação teve como consequências o aumento dos fluxos migratórios do campo para a cidade, bem como o aumento do descontentamento pela falta de democracia que já se vinha a ser permitida em alguns sectores urbanos.

Visita de Gorbachev à
China
Este descontentamento é notório aquando de grandes deslocações a favor da liberalização política, que foram severamente castigadas; e da ocupação da Praça Tiananmem a 15 de Abril de 1989, onde um enorme manifestação de estudantes ocorre. Quando Gorbachev visita a China, na cidade de Pequim, apresenta políticas de abertura, sendo por isso aclamado por meio milhão de pessoas. Estas medidas não são adoptadas, avançando o governo chinês com um plano de repressão extrema a 4 de Junho do mesmo ano aos manifestantes, que culminou no designado Massacre de Tiananmem. Este massacre deixou um número de vítimas até hoje desconhecido, rondando os muitos milhares. Face a esta acção, o governo chinês não manifestou qualquer arrependimento.


“A 2 de Junho, as primeiras unidades militares penetraram nos subúrbios da capital a caminho da Praça de Tiananmem. A repressão que se seguiu foi implacável. O estudantes ofereceram resistência com armas improvisadas e barricadas, mas os soldados abriram passagens à força. A 4 de Junho, os estudantes e alguns simpatizantes foram expulsos com armas de fogo e gás lacrimogéneo, e o seu acampamento foi brutalmente arrasado sob as lagartas dos tanques que irromperam na praça. A chacina prolongou-se por vários dias e ter-se-ão seguido umas dez mil detenções. [...] O número dos que morreram... (rondam) ... os 400 e os 2000 mortos; parece que o total tenha ficado abaixo dos 1000, mas não há certezas.” (J. M. Roberts, História do Século XX, Volume II)

Famosa foto do jovem que tentou
parar o avanço dos tanquesn , na praça
de Tiananmem, Jeff Widener -
"O Rebelde Desconhecido"
Apesar de Deng Xiaoping ter morrido em 1997, não é por isso que a China deixou de prosseguir com a sua economia ou, muito menos, adoptou uma política democrática.








                                           Vídeo sobre o massacre de Tiananmem 

Hong Kong e Macau – os dois últimos territórios chineses

Hong Kong e Macau, ambos territórios situados no sul da China e administrados, respectivamente, por ingleses e portugueses, constituíam zonas económicas e administrativas especiais no contexto das reformas que Deng Xiaoping tivera tomado. Como tal, o governador chinês iniciou negociações com Portugal e Inglaterra no sentido de integrar estas regiões no território chinês.

Imagem de Hong Kong

Hong Kong é oficialmente território chinês a 1 de Julho de 1997, através de um acordo establecido entre chineses e ingleses que o instituía como uma “Região Administrativa Especial”, conferindo-lhe um elevado grau de autonomia, além de poderes políticos democráticos e, até mesmo, uma moeda própria convertível. Macau também passou a ser reconhecido como território chinês, a 20 de Dezembro de 1999, por via de um acordo feito entre Portugal e a China. Estas cidades destacar-se-ão mais tarde como duas zonas de grande crescimento económico, devido ao turismo, aos jogos e casinos viciantes, à exportação de produtos têxteis, ao material electrónico e às tão apreciadas “bugigangas” chinesas.

Cerimónia de entrega de Macau à China por parte de Portugal


“Declaração conjunta do Governo da República Portuguesa e do Governo da República Popular da China sobre a questão de Macau [...]

1. O Governo da República Portuguesa e do Governo da República Popular da China declaram que a região de Macau [...] faz parte do território chinês e que o Governo da República Popular da China voltará a assumir o exercício da soberania sobre Macau a partir de 20 de Dezembro de 1999. [...]” (Pelo Governo da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva; pelo Governo da República Popular da China, Zhao Ziyang)


Concluo, após a realização deste trabalho, que estes três grandes pólos de desenvolvimento económico passaram por etapas de desenvolvimento diferentes, cada um com o seu próprio crescimento económico e político-social. Denoto que, apesar da actual crise, estes três pólos continuam a deter a grande soberania presente no mundo, o que explica os grandes contrastes que se fazem sentir nos dias de hoje.

Bibliografia:

Couto, C; Rosas M A; "O tempo da história" 3ª parte - História A 12ºano. Porto Editora.
Antão, A; Preparação para o Exame Nacional 2011 História A 12. Porto Editora.
Tratado da União Europeia; Conselho das Comunidades Europeias, Comissão das Comunidades Europeias.
Roberts, J. M.; História do Século XX, Volume II. Editorial Presença.
"Smiling Europe". Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu
50 anos de Europa, Os grandes textos da construção europeia, Parlamento Europeu Portugal
Barreau; J, C; Bigot; G; Tout l’histoire du monde, Editorial Teorema
História Universal, Século XX (de 1945 até à actualidade), Equipa Editorial Oceano
A Europa, o Desafio Demográfico e o Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça, Debate no Centro Cultural de Belém a 18 de Outubro de 2002, Parlamento Europeu Portugal


Webgrafia:

http://europa.eu/index_pt.htm
http://www.brasilescola.com
http://www.frasesfamosas.com.br
wikipedia.com
infopedia.com
Google Imagens

Outros:

Apontamentos das aulas.
Trabalho realizado por: José Francisco nº20 

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